9 de mar. de 2009

Sentimento e cálculo

O Everaldo Matsuura mostrou em seu blog como é fácil a gente ser traído pela sensibilidade quando nos deparamos com posições familiares, principalmente quando envolvem sacrifícios, e deixamos de lado, por auto-confiança, falta de tempo, ou mesmo preguiça, o cálculo das variantes.

As posições seguintes aconteceram em um torneio de xadrez rápido (16min por jogador) realizado neste último final de semana aqui em Joinville.

Na primeira partida, contra o Lucio Amorim, jogador extremamente tático, cometi o erro bastante comum de buscar a glória em vez da vitória: numa posição em que eu tinha uma grande vantagem na abertura resolvi sacrificar a Dama, sem ter tempo suficiente para confirmar a correção das principais linhas. O simples 15.Dg3 já daria vantagem suficiente para ganhar a partida. Entretanto, como resistir a sacrificar a Dama? Além disso um lance antes a possibilidade de um bonito mate caso, após 14. fxe5, o cavalo fosse para g8 seguiria 15. Cxe6 fxe6 16.Bg6+ Rd8 17.Df8#!, foi decisivo. Porém o sacrifício envolvia outras peças além de obedecer a uma ordem correta. E logo no segundo lance havia um xeque intermediário em f4 que o Lucio não deixou passar e definiu a partida.






A segunda partida foi contra a Amanda. Ela já evitou alguns erros do Lucio , não permitindo e5 e chegamos a uma posição conhecida da siciliana Najdorf em que é possível o sacrifício do cavalo em d5. Ou não? Neste caso, quem se atrapalhou com o tempo foi ela já que não é fácil achar os lances de defesa corretos com pouco tempo. O fato é que ela permitiu que o sacrifício funcionasse até que de repente surgiu a possibilidade de ganhar rápido e bonito no lance 17.Txe6. O lance que ganha sem problemas é 17. Cxg7+ e depois Tx e6. Eu vi, ela viu, a torcida inteira do Corinthians viu. Só que eu analisei rápido e achei que o outro era bem mais bonito e levava a um mate claro.

Qual não foi a minha surpresa quando no lance 19 ela não tomou meu cavalo e jogou Rf8. E agora? Cadê o mate? A posição ainda deve estar ganha mas já não era aquela que eu esperava. Felizmente para mim consegui ganhar logo em seguida.





Por essas e outras é importante treinar o cálculo e manter o sangue frio. Muitas vezes fazer como Capablanca. Não se deixar atrair por outras linhas de ganho quando aquela que voce traçou está funcionando perfeitamente. Mesmo que demore um pouco mais.

3 comentários:

Ana Vitória disse...

O Rafael me falou um pouco de você.

Gostei do blog! ;)

Silvio Cunha Pereira disse...

Olá Ana.
Obrigado pela visita. Eu já tinha dado um olhada no seu blog e me interessou muito. Quanta gente que a gente não conhecia fazendo um grande trabalho intelectual.
Apareça.

Daniel Brandão disse...

Olá Sílvio,

É muito bom conhecer as experiências de jogadores fortes relatadas assim. Quem dera os livros de partidas analisadas fossem escritos dessa forma, viva e humana! Mesmo sem comentários rigorosos do ponto de vista técnico, é muito mais agradável e produtivo desta forma.

Grande abraço,
Daniel Brandão